As ambivalências do gosto : repensando os limites da teoria bourdieusiana do habitus à luz da dimensão estética

Esta obra é resultado do encontro de duas preocupações teóricas fundamentais. Por uma via, a problematização da teoria do habitus de Pierre Bourdieu, do questionamento do veredicto da crítica, segundo o qual o habitus possui uma lógica avessa à liberdade e autonomia dos indivíduos; por outra, a tentativa de refletir acerca da dimensão política do gosto – pensado à luz da estética. Esse encontro se tornou ainda mais radical e autêntico a partir do momento em que, no interior do pensamento bourdieusiano, habitus e gosto se revelaram visceralmente ligados. À medida que se aprofundava na busca por resíduos de liberdade e reflexividade na teoria do habitus, paralelamente, consolidava-se a possibilidade de realizar uma leitura política do gosto. E, inversamente, à medida que se escavava a dimensão política subjacente à lógica estética do gosto (em que medida ele se liga à liberdade/dominação), mais possibilidades teóricas emergiram no sentido de repensar a teoria do habitus e questionar o suposto fatalismo e reprodutivismo. As investigações a seguir, balizadas por esses termos, conduzem também à renovação da crítica, pois as novas leituras extraídas a partir desse diálogo – entre a teoria do habitus e os discursos estéticos do gosto – permitiram o diagnóstico de novos limites, imperceptíveis
até então. Cabe, então, ao leitor, não perder de vista o elemento genético e estruturante da obra, para que possa observar a movimentação intelectual presente.