Os gêneros da escola: e o (im)possível silenciamento da diferença no currículo

Os gêneros estão na escola, assim como suas múltiplas, complexas e dinâmicas relações com as identidades, performances, práticas, fantasias, desejos, parcerias, conflitos, tabus, subversões e invenções sexuais, a despeito das renovadas, crescentes e cada vez mais agressivas tentativas de negar essa dimensão, de conter sua aparição e de coibir a pronúncia e reverberação dos nomes que reconhecem e problematizam essa presença. Não somente os gêneros e sexualidades entram pelas portas das escolas levados por estudantes, familiares, docentes, gestoras e outras pessoas, mas, as próprias estruturas das políticas educacionais, curriculares, das culturas escolares e dos discursos pedagógicos, disciplinares, midiáticos, políticos, sociais, religiosos e familiares estão radicalmente atravessadas por padrões de demarcação de gênero e por lógicas de produção de subjetividades engendradas e sexualizadas. Assim, tentativas de estigmatização, proibição e mesmo criminalização dos estudos e discussões sobre gênero e sexualidade no campo da educação e nas escolas não podem ser tomadas como iniciativas que buscariam “imunizar” os espaços escolares e/ou o tempo da infância contra questões que lhes seriam alheias ou impróprias. Os discursos de padronização de gênero e regulação da sexualidade estão no próprio cerne da emergência e configuração das instituições escolares modernas. Este livro constitui-se, portanto, como parte de uma dinâmica de resistência e contestação a esse crescente movimento que intenta negar a presença, invisibilizar os dilemas e silenciar as vozes e gestos de estudantes, educadoras, acadêmicos e outros sujeitos sociais que têm buscado problematizar as lógicas e práticas de (re)produção e negociação dos modelos e comportamentos de gênero e sexualidade que se desenvolvem nos espaços escolares e no campo da educação.