Fora do(s) eixo(s): confrontos e descentramentos artísticos, literários, intelectuais

Reunindo textos de autores de formação diversa (história, sociologia, literatura), que constroem suas reflexões a partir de temáticas e obras igualmente variadas, este livro resulta, entretanto, de um fundo de preocupação comum. No seu conjunto, e cada um à sua maneira, os capítulos procuram responder a umas tantas questões iniciais – quem define, como se definem, e a partir de que parâmetros, os princípios classificadores dos fatos culturais? –, que, forçosamente, se desdobram em outras tantas: quais as implicações de não se estar em conformidade com tais ou quais princípios de ordenação, que são sempre uma ordem de hierarquização? Como falar dessas outras coisas, desses outros lugares, sem desconhecer a força das hierarquias vigentes, nem a elas se subordinar?

O esforço é o de pensar a multiplicidade das dinâmicas culturais no Brasil – principalmente, mas não só – em seus próprios termos, segundo os princípios de inteligibilidade vigentes e, caso a caso, em suas específicas condições e dinâmicas, com atenção às lógicas sociais mais amplas com que dialogam, e com a certeza de que os desvios em relação aos padrões dominantes, antes de serem vistos como erro ou insuficiência, devem ser considerados um fazer diferente. A antropofagia, a arte moderna no Recife da década de 1950, a variedade de nomes como os de Maria Carmen, Ulysses Lins de Albuquerque, Reinaldo Arenas e Aluísio Azevedo, entre outros temas, são aqui revisitados, sob a convicção de que, apenas ao se ampliarem os repertórios de fazeres e pensares, estaremos caminhando em direção a uma apreensão mais acurada do que seja essa nebulosa chamada cultura brasileira – ou latino-americana, ou qualquer outra que se dá “fora dos eixos”.